KALI

(Om krim kalyai namah)

Eu reverencio à Mãe Kali Quem afasta as trevas. Segundo as escrituras sagradas, estamos vivendo um período (Era de Kali ou Kali Yuga) onde o metal predominante é o ferro, cor vermelha (em sânscrito Raktabija; Rakta significa a cor vermelha, mas também sangue e paixão. Bija significa semente, então Raktabija significa semente do desejo,ou da paixão). Devemos entender que Kala tem o significado de trevas e também tempo. Kali afasta as trevas e é também a causa do tempo. A forma devocional mais adequada pois para a Kali Yuga deve ser a reverência à Grande Mãe Kali (a natureza em constante transformação). Não devemos ver essa transformação, necessária ao despertar da consciência, como uma forma negativa ou demoníaca como dizem alguns.

O culto à Mãe Divina é inerente a cada povo nas determinadas épocas de suas manifestações. A Grande Mãe tem vários nomes e várias formas. Assim ela é Maria com todos os seus nomes e cultos da tradição cristã, ela é Pacha Mama, Ísis, Tonantzin, Astartheia, Insoberba, Kali, Ceuci, Yosodhara, Dakini, Rakini, Lakshimi, Kakini, Shakini, Hakini, Kundalini, Saraswati e tantos outros nomes e formas de acordo com o culto devocional de todos os povos. A adoração à Mãe Divina sempre foi uma expressão do culto matriarcal, pois é mais fácil a ligação com a Grande Mãe (forma feminina da Divindade) do que com o Pai sempre austero. Podemos afirmar que o amor do Pai se revela pela natureza (a Mãe), conforme o dizer de um grande mestre “Deus desposou a natureza e nasceu o homem, o homem desposou a mulher e nasceu Deus”. Quando reverenciamos à Kali nos rituais estamos apenas reverenciando a própria natureza, pelas grutas das montanhas, as cachoeiras, pelo fogo, e que estão também dentro de nosso próprio corpo. Na verdade, nós não invocamos à Kali nos rituais, simplesmente a evocamos de dentro de nós.

Se formos pesquisar nos dicionários e enciclopédias sobre Kali, encontraremos descrições inexatas, fantasiosas que são frutos do medo e falta de conhecimento daqueles que as escreveram devido a sua representação por imagens e desenhos que são totalmente simbólicos. A Grande Mãe Kali geralmente apresenta-se numa figura ameaçadora, segurando uma espada em uma das mãos, uma cabeça humana na outra, um tridente, um colar de cabeças, a língua vermelha para fora e com os pés por cima de seu Divino esposo Shiva. A espada representa a força da ação da natureza, a cabeça humana e o colar de cabeças representa o corte do intelecto, ou dos egos(personalidade, personna, do latim que quer dizer máscara). Representa pois a morte dos egos,para que floresçam as virtudes.O tridente representa a supremacia sobre os três aspectos materiais ou tres gunas (sattwa, tamas e rajas) a língua vermelha esticada, representa a transformação da Mãe Durga, a guerreira que agora toma a forma de Kali para que todos os demônios(egos, desejos) após serem decepados pela espada poderosa e que ainda nasciam pelas gotas do sangue, agora sejam digeridas pela língua bendita de Kali e assim não renasçam mais das gotas.

O corpo que está sob o pé de Kali, é o de Shiva e representa que seria ou estaria inerte se não fosse pela ação do movimento, na dança cósmica do maha-kala, só que no presente yuga(ciclo) ele repousa, personificando o inverno. Então do acima exposto, podemos deduzir que nesta Era de Kali (Kali Yuga) temos que contar com nossa Divina Mãe para nosso aprimoramento na vida material.

Bom considerar nossa tradição cultural cristã, e citamos dentre muitas, as seguintes passagens do livro sagrado:

Provérbios: 18.21:

“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utilizar come do seu fruto”.


João 1.1:

“No principio era o verbo... (a língua é o instrumento do verbo).”


Tiago 3.1,2, 3... 7

“Ora se pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo todo”.

“Pois toda espécie de feras, aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai também com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança do criador”.

Pode-se entender daí que o significado da língua é bem maior do que possamos deduzir. Quem tem bom entendimento que o entenda.

Lembremo-nos que a Mãe Negra está em toda cultura,na Padroeira do Brasil, na Argentina, no Peru e Bolívia junto aos Incas, na virgem de Montserrat na Espanha e nos diversos povos da cultura oriental e ocidental.

Somos espíritos em busca de experiências materiais e não corpos materiais que precisam de experiências espirituais.

Om Kali maa, Om Shakti Om...

Marcos Vallias